domingo, 20 de fevereiro de 2011


Maria Gomes de Oliveira, vulgo Maria Bonita (Glória, 8 de março de 1911[1] — 28 de julho de 1938) foi a primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros.
Inacinha, companheira do Cangaceiro Gato

Nascida no sítio Malhada da Caiçara, do município de Paulo Afonso, na época município gloriense, na Bahia.

Depois de um casamento frustrado, em 1929 tornou-se a mulher de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, conhecido como o "Rei do Cangaço". Continuou morando na fazenda dos pais, mas um ano depois foi chamada por Lampião para fazer efetivamente parte do bando de cangaceiros, com quem viveria por longos oito anos.

Com o cangaceiro, Maria Bonita teve uma filha de nome Expedita Ferreira Nunes e os gêmeos Arlindo e Ananias Gomes de Oliveira[2], assim como nasceram mais dois filhos, sendo natimortos. Morreu em 28 de julho de 1938, quando foi degolada ainda viva pela polícia armada oficial (conhecida como "volante"), assim como Lampião e outros nove cangaceiros.

sábado, 19 de fevereiro de 2011


Patricinha, não!

Criada para se casar, Patrícia Saboya Gomes
aprendeu a andar só – e chegou ao Senado

Ex-comunista, ex-vereadora, ex-deputada e ex-mulher de político, Patrícia tem luz e trajetória próprias: traços indígenas e doçura iluminam a primeira senadora eleita da história do Ceará

A senadora Patrícia Saboya Gomes nasceu com tudo para ser mulher de político. Filha da elite cearense, bonita e mimada, foi criada tal e qual uma princesa do agreste – nunca precisou fazer a própria cama e até hoje mal sabe fritar um ovo. Aos 19 anos, casou-se com o galã da sua cidade, a orgulhosa Sobral, oásis de prosperidade no sertão do Ceará. O rapaz, igualmente da fina flor local e igualmente bem-apessoado, deu-lhe três filhos e elegeu-se prefeito em 1988, transformando-a na mais jovem primeira-dama do Estado. Se tivesse seguido seu destino natural, Patrícia seria hoje, aos 40 anos, uma ex-mulher de político – o Brasil inteiro sabe que o marido se apaixonou por uma outra Patrícia, a Pillar.

Nem como namorada, nem como esposa, nem como ex, no entanto, ela seguiu os clichês previsíveis. Patrícia nunca foi patricinha. Quando conheceu o hoje ministro Ciro Gomes, aos 18 anos, de calça jeans boca-de-sino e muitas idéias na cabeça, já presidia o Centro Acadêmico do curso de fisioterapia da Universidade de Fortaleza. Militava no linha-duríssima Partido Comunista do Brasil, o PC do B. Ele, jovem advogado, ensaiava uma candidatura a deputado infinitamente mais à direita, pelo PDS. Apaixonaram-se, casaram-se, tiveram três filhos (Lívia, de 19 anos, Ciro, de 17, e Yuri, de 13). A paixão pela política acompanhou-a durante os mais de quinze anos em que foram tidos como um casal-modelo, quando ela foi vereadora e deputada estadual – e também a salvou da obscuridade depois que a união acabou. A retidão de caráter transformou-a num caso raríssimo de mulher abandonada que não apenas não recrimina o ex: elogia-o e reconhece os imperativos do coração que o levaram para os braços de outra. A mãe de Patrícia, Marly Saboya, conta que a filha proibiu quem quer que fosse – ela, Marly, incluída – de criticar Ciro. "Fiquei um pouco revoltada", lembra Marly. "Mas, quando ameaçava dizer alguma coisa, minha filha me interrompia: 'Mãe, isso acontece'."

Patrícia não é deste mundo? Ao contrário, como qualquer mulher normal, ela sofreu o diabo. "Imagina o que é você ser traída em cadeia nacional e ainda ter como rival uma estrela de TV no auge da fama?", indaga um amigo. Ela própria reconhece: "Chorei muito, me desesperei até. Eu me casei com um homem por quem estava apaixonada e queria morrer ao lado dele. Não foi possível". Logo, porém, reaflora o senso de justiça, talvez o mais difícil sentimento de um parceiro rejeitado: "Eu também poderia ter me apaixonado por outra pessoa". Patrícia continua a admirar o ex-marido, com quem mantém singulares laços político-afetivos, e não abre a guarda nem um instante quanto à lisura de seu comportamento. "Não me importa se o Ciro me contou o que aconteceu no dia em que aconteceu ou dez dias depois", diz. "Ele não deixou de ser o homem íntegro que conheci só porque o nosso casamento acabou."

A separação dolorosa e a experiência política, própria e conjugal não a prepararam, porém, para o que a esperava quando se candidatou a prefeita de Fortaleza, em 2000. Durante a campanha, a recém-separada deputada estadual viu fotos suas nos cartazes de propaganda serem retocadas com desenhos de chifres. Outdoors que a mostravam de braços abertos passaram por um sistemático e anônimo trabalho de pichação para que as mãos exibissem, no lugar do microfone, uma imagem que era a representação do machismo que torpedeou a disputa: um falo grotesco. Patrocinados por adversários, programas de rádio aproveitaram-se da popularidade de uma marca de manteiga que levava o seu nome para insinuar uma suposta fragilidade da candidata, ao mesmo tempo que exaltavam as qualidades de um certo "biscoito Pillar" – apresentado como "o preferido do ex-governador". Foram seis meses de bombardeio incessante, que a fizeram desabar várias vezes. "Chorei muito diante dos meus filhos", lembra. Ao final, além do casamento desfeito e da campanha sórdida, ela amargava a mais retumbante derrota eleitoral da carreira.

A virada só aconteceu dois anos depois, quando venceu as resistências do partido, o PPS, que preferiria vê-la candidata a deputada, e dos amigos, traumatizados com a campanha pela prefeitura. Ela teimou, concorreu, venceu e se tornou a primeira senadora eleita da história do Ceará. Hoje, vice-líder do governo no Senado, só não acumula mais funções do que fãs. O mais ardoroso deles, o senador Mão Santa, é incapaz de avistá-la pelos corredores sem deixar escapar um suspiro, seguido de um sonoro "Iraceeeema" – apelido tirado da personagem de José de Alencar com quem compartilha a beleza de traços indígenas. Patrícia não liga, dá risada. Ao contrário do estereótipo da política nordestina de pêlo nas ventas, como a colega senadora Heloísa Helena, a mãe de todas as fúrias na tribuna, Patrícia, como a virgem de lábios de mel do romance, é sempre dulcíssima. Sua área de atuação, aí sem grande originalidade, é voltada para a infância: coordena a Frente Parlamentar pela Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, é relatora de uma das subcomissões da Criança, Adolescente e Juventude e presidente da CPI da Exploração Sexual.